Em 09 de fevereiro de 1956, morria na Paz de Deus o Servo de Deus Mons. Luís Maria Martínez (1881-1956), Arcebispo da Cidade do México, grande escritor místico e destacado diretor espiritual.
Entre suas filhas espirituais, destacam-se: a Serva de Deus Madre M. Angélica Alvarez Icaza (1887-1977), fundadora do Mosteiro da Visitação de Santa Maria da Cidade do México, a Beata Conchita Cabrera de Armida (1862-1937), inspiradora das Obras da Cruz e a Madre Auxilia da Cruz (1891-1974), fundadora das Oblatas da Santíssima Eucaristia.
Mas não só foi um grande diretor espiritual, como foi ele mesmo um grande místico. Aqui apresentamos uma página de seus escritos pessoais, mais especificamente do seu Diário espiritual, no dia 20 de novembro de 1925, 21º. Aniversário de sua ordenação sacerdotal.
“De tarde, antes da hora costumeira senti desejos muito vivos de fazer oração e fui ao oratório me propondo fazer depois meus afazeres.
Ao me pôr na presença de Deus, senti minha miséria. Sou um nada fecundo em iniquidades. Nada bom posso por mim mesmo; o que fiz, Deus o fez em mim, se diria que apesar de mim, pois eu rebaixei e estraguei a obra de Deus apesar de suas imensas graças. Mas para o mal, tudo posso. Quanto fiz! E quanto teria feito, se Deus não tivesse me impedido!
Mas improvisamente e mesmo antes de me unir à Santíssima Virgem, senti como que me lançava no seio da Misericórdia infinita. Fui isso tão rápido, tão profundo e tão fecundo que, sem dúvida, foi de Deus.
Em meio às lágrimas, foi como se desenvolvendo no meu espírito aquela luz e em meu peito aquela emoção.
Vi a Misericórdia suave e regalada como o colo de uma mãe, ardente como um ósculo apaixonado de amor, imensa como um oceano. É o amor que perdoa, que esquece, que cura, que acaricia, que levanta e promete a união.
Às vezes, me esmagava com sua grandeza, mas grandeza dulcíssima de amor; e, às vezes, me parecia que o Amor (porque a Misericórdia é o amor que se disfarça com véu divino) descia até as profundezas do meu nada e as enchia curando o enfermo, limpando o sujo, levantando o abjeto.
Sim, a Misericórdia é o amor que para baixar até os miseráveis e até os pecadores toma esse nome e esse véu; é o amor com certo divino matiz que corresponde admiravelemente à minha miséria.
Diria que é o amor feito expressamente para mim. O amor com um matiz de delicadeza, de ternura, de audácia, de bondade; o amor com uma virtude transformadora capaz de mudar o nada em algo divino.
O amor que não se detém diante dos abismos, diante dos lamaçais, antes os busca para transformá-los.
O amor para cuja reivindicação não há desculpa, para cujas efusões não há vergonha. Tão natural parece que a Misericórdia ame a miséria!
E essa Misericórdia é infinita!
Sob sua ação não somente sente a alma o consolo do perdão e a força da esperança, mas a santa segurança do amor, como a promessa da união. A Misericórdia é o amor que virginiza as almas manchadas, que de tal modo limpa, que de tal sorte perdoa, que tão divinamente esquece, que a alma sem deixar de sentir sua miséria, antes sentindo-a como nunca, aspira, sem sentir sua ousadia, ao que somente tem direitos a aspirar as almas virgens.
Me parecia que aquela Misericórdia falava, me dizia: Me enamorei apaixonadamente da tua miséria: ideo attraxi te miserans tui, por isso te atraí cheio de compaixão por ti.
Ser amado assim é ser amado muito delicadamente, muito deliciosamente, muito divinamente.
Me senti amado apaixonadamente pela Misericórdia. Todo meu ser se comoveu, até meu corpo.
Cumpria o Senhor meu desejo de exercícios, escutaria minha absurda prece de então?
Me disse com seus lábios divinos que me ama e que será todo meu.
Mas não me disse o amor (a secas), me disse a Misericórdia.
Que felicidade é ser pequeno e miserável!
Me pareceu entrever três aspectos da Misericórdia: o do Pai, o do Filho e do Espírito Santo.”
Eu tive a graça de traduzir uma obra de Mons. Luís Maria Martínez, "A Verdadeira Devoção ao Espírito Santo", que explica a fundamentação teológica e espiritual da consagração ao Espírito Santo.
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Deus lhe pague!
Em união de orações,
José Eduardo Câmara