A santidade no cotidiano
Em 21 de outubro de 2001, eram beatificados o casal dos Beatos Luigi e Maria Beltrame Quattrocchi.
Para fazê-los mais conhecidos, eu escrevi uma breve introdução a sua espiritualidade.
Os Beatos Luigi e Maria se casaram em 25 de novembro de 1905, na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma. Desta união nasceram quatro 4 filhos: Filippo, Stefania, Cesare e Enrichetta.
O primogênito se tornará Padre Tarcísio, sacerdote diocesano; Stefania será a Madre Cecilia, das Beneditinas da Adoração Perpétua de Milão; Cesare será Padre Paolino, monge trapista, chegou a escrever vários livros, inclusive sobre a Beata Maria Gabriella e sobre São Rafael Arnáiz Barón, ambos trapistas.
A última gravidez será difícil, pois Maria apresenta um diagnóstico de placenta prévia, e o médico lhes recomenda um aborto, para salvar ao menos a vida da mãe. Isso é completamente rejeitado pelo casal. Luigi e Maria se põe nas mãos de Deus. A entrega e a confiança são totais.
Os caminhos de Deus são admiráveis! Eis que a pequena Enrichetta nascerá bem. Ela viverá sua consagração no mundo, junto à sua família, será ‘missionária’ no mundo. Morrerá aos 98 anos em 2012. Está em andamento sua causa de beatificação e já é Venerável.
Chamados à vida de união
Beato Luigi e Maria Beltrame Quattrocchi, viveram unidos por um grande amor. É impossível não se comover ao ler as cartas trocadas durante o noivado!
Todo o ambiente familiar refletia este amor. Amor que tem suas raízes no Amor de Deus. A vida interior, longe de afastá-los, os tornou cada vez mais unidos. Assim, na sua família, em meio às dores, contrariedades e cruzes, foi crescendo essa união familiar, a ponto de ser tornarem "bloco compacto, plasmado de uma única matéria", como dirá Maria, numa obra escrita após a morte de Luigi - livro testemunho daquela vida de amor - onde o sofrimento da perda do marido, a leva a refletir sobre sua família. Ali, ela descreve sua família como:
"Bloco querido por Deus no Sacramento do Matrimônio, composto, plasmado, que se tornou compacto e inquebrável pela mútua compreensão do amor. Luminoso e incandescente pela elevação recíproca das almas na caridade".
Eis o fruto da fidelidade de ambos às graças recebidas no seu Matrimônio e durante toda sua vida. Eis a grande graça: a União!
O Sagrado Coração de Jesus
Na espiritualidade dos Beato Luigi e Maria tem especial relevância a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
Especialmente a partir de 1916, quando encontram o Padre Mateo Crawley-Boevey SS. CC, Apóstolo mundial da Entronização do Sagrado Coração de Jesus nos lares. Ele se tornou amigo e conselheiro espiritual de toda família. Quando Maria publicar seu livro “Voce di Madre”, o Padre Mateo escreverá o prefácio. Ali no lar da família Beltrame Quattrocchi, o Sagrado Coração será entronizado. Ali ele será o Rei.
Maria, no seu testamento espiritual escrito em 1919, para seu marido e seus filhos, diz assim:
“O Coração de Jesus seja o vosso centro de união, de amor, de confiante esperança. Seja o vosso mestre de humildade e de ternura. Renovai a consagração em todas as datas memoráveis, em todas as solenidades da Igreja nossa Mãe. De noite, então, reunidos sob sua imagem, pedi-lhe a benção... que dilate os vossos corações, para enchê-los de Si, depois de os terem esvaziado do demasiado e do vão; que vos conduza sempre mais dentro do seu Coração Divino... Eu também estarei próxima a vós, junto de vós, e será tão doce repetir-lhe todos juntos que queremos ser seus filhos, seus amigos, como quando nos consagramos a Ele... Será tão doce nos reencontramos com Ele, por Ele, e n´Ele, agora e sempre, por toda a eternidade, no seu Amor. Assim seja”.
No Sagrado Coração de Jesus, o Família Beltrame Quattrocchi, estará sempre unida!
Um matrimônio eucarístico
Na vida familiar e espiritual dos Beato Luigi e Maria Quatrocchi, a experiência desta união íntima e familiar era importantíssima. União vivida na intimidade familiar e aprofundada na vida litúrgica, na vida eucarística. Assim escreve Maria:
“O dia começava assim: Missa e Comunhão, juntos. A sua paixão pela Liturgia, além de o fazer ler a Missa do dia em alta voz enquanto eu me preparava, o levava a levar sempre o Missalzinho, e a segui-lo, mesmo conhecendo o “ordinário” de memória, linha por linha. Saindo da Igreja, me dava o “bom dia” – como se o dia somente então tivesse seu justo início. E era verdade. Se comprava o jornal, se subia para casa começando a entrar na vida cotidiana. Ele ao seu trabalho, eu às minhas ocupações. Cada um por conta própria, mas levando cada um – incessante – a presença do outro”.
Os Beato Luigi e Maria viveram como casal as diferentes fases da vida. Do enamoramento e noivado, dos primeiros dias de matrimônio até chegada dos filhos. Viveram a tribulação das enfermidades, a dor da separação dos filhos, que ainda jovens seguiram os caminhos do Senhor, e os sofrimentos das enfermidades... até o luto e a viuvez de Maria.
Mas, vivendo enraizados em Cristo Jesus, viveram unidos, apesar das contrariedades e dificuldades, que não faltaram na vida desta família. Assim, mesmo quando distantes, viviam unidos.
Numa carta, Maria escreve a Luigi:
"Também nós, não é verdade, nos encontraremos junto a Jesus, embora distantes tantos quilômetros? Lembre-se que no momento em que o Senhor está no seu coração, Maria está ali com o Senhor no teu coração, Maria está com Ele, e somos todos um só".
Os Beatos Luigi e Maria encontraram na Eucaristia o fundamento da sua união.
O Magistério espiritual
Como sabemos, o Evangelho se aprende no colo da mãe. Os filhos não se cansavam de testemunhar o ambiente natural e cheio de alegria de seu lar, de como as realidades sobrenaturais eram vividas com naturalidade. A formação dos filhos e sua educação era uma prioridade da Beata Maria. Apresentamos como exemplo deste magistério, um belíssimo trecho de uma carta escrita pela Beata Maria à sua filha mais nova, a Venerável Enrichetta Beltrame Quattrocchi.
"Minha cara Enrichetta,
(...) Faz da tua vida um louvor perene a Deus - um hino de amor sobrenatural a todas as criaturas, nossas irmãs - uma dedicação generosa e alegre que não tem confins. Faz conhecer Jesus através da tua alma. Sê um ostensório, uma "partícula da Eucaristia", que se doa, como Jesus se doa a nós, sem reservas. Sê uma hóstia de louvor e de amor. Dê Jesus, como Maria o deu a nós, dai-o às almas, como Ele mesmo se dá, através do teu aniquilamento. Exinanivit [aniquilou-se], diz São Paulo [Fl 2, 7], de Jesus. Desaparece para mostrá-Lo. Esconde-te para o fazer conhecer, e não queira conhecer senão Ele só, o único necessário, a beleza suprema, a luz do mundo, que ilumina as nossas trevas, que dá vida à nossa morte, que é felicidade também na dor.
Mas Ele, verdadeiro, não deformado. Ele amor, não vingador. Ele justo, mas misericordioso, antes a própria Misericórdia. Ele que sabia como o homem era feito... porém passava beneficiando, perdoando e tendo compaixão... porque amava.
Eis aqui, pequenina, o meu presente. Amai-o e fazei-o amar, até a paixão, até a loucura... mas loucura da Cruz; onde não há ilusão, onde não há perigo, onde não há injustiça.
Eis, pequenina, a minha última voz, eis o que hoje é vida e paixão da minha vida".
Não nos espanta que a Venerável Enrichetta tenha, nos últimos anos de sua vida, mantido consigo um trecho desta carta, que sempre meditava. É um verdadeiro convite à vida de santidade!
Em 21 de outubro de 2001, quando Luigi e Maria foram beatificados, assim disse São João Paulo II sobre seu testemunho de santidade:
“Estes cônjuges viveram, à luz do Evangelho e com grande intensidade humana, o amor conjugal e o serviço à vida. Assumiram com responsabilidade total a tarefa de colaborar com Deus na procriação, dedicando-se generosamente aos filhos a fim de os educar, guiar e orientar na descoberta do seu desígnio de amor. Deste terreno espiritual tão fértil surgiram vocações para o sacerdócio e para a vida consagrada, que demonstram como o matrimônio e a virgindade, a partir do comum enraizamento no amor esponsal do Senhor, estão intimamente relacionados e se iluminam reciprocamente.
Inspirando-se na palavra de Deus e no testemunho dos Santos, os beatos Esposos viveram uma vida ordinária de maneira extraordinária. Entre as alegrias e preocupações de uma família normal, souberam realizar uma existência extraordinariamente rica de espiritualidade. No centro, a Eucaristia quotidiana, à qual se acrescentava a devoção filial à Virgem Maria, invocada no Rosário recitado todas as noites, e a referência aos sábios conselheiros espirituais. Desta forma, souberam acompanhar os filhos no discernimento vocacional, treinando-os a avaliar tudo começando "do teto para cima", como gostavam de dizer muitas vezes com simpatia”.
A mensagem dos Beato Luigi e Maria é verdadeiramente atual e urgente...
Beatos Luigi e Maria, rogai por nós!
Para comemorar os 25 anos da proclamação de Santa Teresinha como Doutora da Igreja, eu fiz uma live sobre o Ato de oferecimento ao Amor misericordioso:
Deus lhe pague!
Ajude a divulgar!
Em união de orações,
José Eduardo Câmara